Ela acorda as 5:30, banha, escova os dentes, olha o céu através de uma telha transparente, o sol ainda não nasceu. Deita. O sol nasce. Levanta. Olha em volta tudo é igual, exceto pela bagunça que se acumula. Tédio. Liga o notebook. Cansa da tela. Relê páginas preferidas do mesmo livro.
11:30 Almoça. 12:00 Outro banho. Deita. Dorme.
14:30 Acorda, pensa no sonho vago que teve.
15:00 Levanta, procura na TV a mesma história antiga de uma novela repetida. Cansa.
16:00 Olha as folhas verdes de uma árvore no quintal. Cansa. Tédio.
17:30 Liga o notebook. Alguns amigos on-line. Falam. Contam suas vidas, problemas, falhas. Ela lê. Aconselha coisas que ela faria. Procura por novas pessoas, mas conhecê-las significa repetir as coisas sobre ela mesma que já a cansaram de saber. Olha sua página de recados. Muitos spam’s. Tédio. Lê sobre coisas estranhas. Assiste episódios de seriados repetidos. Edita imagens. Escreve histórias. Frases tristes.
03:00 Cansaço. Ela resolve que precisa realmente deitar. Dorme...
05:30... o dia recomeça.
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Ela não tem hora para acordar, mas especialmente hoje acorda as 04:00 o coração acelerado mesmo em repouso pula feliz no meio do peito. Todos os seus sonhos essa noite confirmam que ela viverá intensamente pelas próximas horas. O coração continua a acelerar, não importa o quanto respire.
Levanta as 08:00 ou talvez menos, ela não sabe, não é seu costume perceber o tempo pela marcação do relógio. Arruma a mochila com itens indispensáveis, entre eles a câmera digital, celular, camisa personalizada e caneta. Ela sabe que todo o mar de amor que esta prestes a sentir a nutrirá para que ela não precise de comida, ar, ou sono. E isso é o bastante para justificar os dias de tédio em que ela apenas se esforça pra existir. Mas não importa, ela não pensa, sequer lembra de que existe outra dela vivendo em um tempo diferente de maneira diferente e que a envergonharia provavelmente.
Ela ama ser quem é e ama o que ela esta preste a viver, faria tudo para ser para sempre. Ela faz tudo pra ser. Tudo pronto, o banho é metódico, não pode esquecer nada. A água bate em seu rosto, suavemente, alegre como seu espírito, o perfume do sabonete é sentido como o aroma mais atraente.
Ao sair ela não se lembra de olhar parar trás está indo para o seu lugar no mundo, o lugar a qual pertence, ela sabe que não deixa nada para trás, o seu mundo esta a frente.
Caminha, não sente os passos ao tocar os pés no chão. A vida tem tantas cores e tão provocantes odores que quase muito pouco importa além dos seus objetivos. Encontra com esse espírito a amiga ruiva/loira que segue na mesma emoção. As estradas são tragadas pela ansiedade, consumidas pela necessidade de chegar logo.
E o finalmente encontrar-se, não importando em que lugar no universo seja, ela segue pelas ruas, conhecendo pessoas incríveis, com suas histórias, algumas lorotas, sua ajuda e trava novas amizades, pessoas que ela não lembrará nos próximos anos, mas que são importantes naquele momento, não é de seu feitio gravar fisionomia de rostos, mas ela lembrará da história vivida com eles.
Algumas pessoas são reencontradas, as permanentemente queridas, amadas e que fazem com que cada loucura vivida valer a pena. Ela os encontra, os dedica atenção e amor, pede um pouco de carinho e recebe como a mais feliz de todas as crianças agraciadas pelo doce preferido.
Tudo o que acontece então é a cargo do destino, nada é planejado, mas tudo é recebido com alegria imensa. As dificuldades são quebradas e servem pra apimentar ainda mais a aventura. As alegrias são recebidas como uma dádiva divina, injustificável, porém inesquecível. Todas as suas energias são drenadas e o corpo não reclama de perecer de felicidade. A vida é muito bonita.
O lastimável retorno trás seu corpo de volta, embora sua mente continue a vagar as lembranças recentes. Dolorida, cansada ela volta à cama que a abrigava, retornando através dos seus sonhos seus momentos de felicidade.
